Dor de Cabeça não é dor no Cérebro; ele é insensível
Quem nunca
sofreu com aquela dor de cabeça que teima em não passar? De acordo com a
Sociedade Brasileira de Cefaleia, sete em cada 10 mulheres e
metade dos homens têm pelo menos um episódio de dor de cabeça ao mês no
Brasil.
O curioso é que, diferentemente de
outros órgãos, a dor na cabeça não é um indicativo —pelo menos na grande
maioria dos casos— de que o cérebro não vai bem. E por um motivo bem simples:
nosso cérebro "não sente dor".
O que dói, na verdade, são as lesões
em estruturas que ficam bem próximas ao cérebro e que tem sensibilidade a dor,
como as membranas que envolvem o órgão (meninges) e os ossos (periósteos), os
vasos sanguíneos, o couro cabeludo e a musculatura da cabeça e o pescoço. O
cérebro mesmo é tão insensível aos estímulos dolorosos que nem é preciso
aplicar anestesia no tecido cerebral durante uma operação, permitindo que
muitos pacientes fiquem acordados durante todo o procedimento.
E por que ele não dói?
Em nosso corpo, existem milhares de
neurônios sensoriais, chamados de nociceptores, cujo trabalho é informar ao
cérebro que algo não está bem. Alguns, detectam substâncias químicas nocivas,
outros percebem temperaturas altas ou baixas demais e outros detectam danos a
nossa estrutura física, como torções, fraturas e queimaduras.
Os nociceptores também variam pela
maneira como entregam essas mensagens ao cérebro. Alguns são responsáveis por
avisar sobre a primeira "explosão de dor" que temos quando algo
acontece (como bater o dedo na porta). Outros estão relacionados à dor
difusa, ou seja, aquela que fica incomodando lentamente.
Quando batemos uma parte de nosso
corpo ou acontece alguma lesão nas estruturas internas (no caso da dor de
cabeça), esses sensores enviam uma mensagem de dor a medula espinhal que a
repassa para o cérebro.
Quando o sinal de dor atinge o
cérebro, ele vai para o tálamo que o direciona para diferentes áreas de
interpretação e o corpo entende que algo errado aconteceu. É aí que o órgão
consulta sua "biblioteca" de emoções e indica a intensidade da dor. O
problema é que, embora nosso cérebro seja um supercomputador que traduz a dor,
ele não possui nociceptores em sua estrutura, por isso não consegue sentir dor.
O problema pode estar em outro lugar
Além de incidentes nas membranas e
vasos sanguíneos, a dor de cabeça pode acontecer por outros fatores. De acordo
com um artigo publicado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, o
cérebro também pode se equivocar na localização da dor, uma vez que existem
diferentes tipos de tecidos e nervos em nossa cabeça (alguns muito pequenos).
É o que acontece, por exemplo, com a
sinusite. Embora a doença esteja relacionada a um processo inflamatório dos
seios da face, sentimos que a dor está no centro da cabeça. Esse tipo de dor é
conhecido como "dor referida". É quando alguém diz sentir dor no
braço ao ter um infarto ou dor no peito ao ter um problema no pulmão.
Um outro exemplo dessa "confusão"
acontece no processo conhecido como "brain freeze". Quando ingerimos
algo muito gelado, como um sorvete, sentimos uma espécie de "pontada"
na cabeça. No entanto, o "problema" está em nossa boca.
Ao tomar algo muito gelado, os vasos
sanguíneos da boca se ampliam muito repentinamente, ativando os nociceptores da
boca. Segundo o artigo, infelizmente, esses nociceptores não são muito precisos
em sua descrição de onde a dor está vindo, então eles criam uma sensação de dor
no meio da cabeça.
Especialistas
consultados: Marcelo Amato, neurocirurgião e cirurgião de coluna, e Mario
Fernando Peres, neurologista do Hospital Albert Einstein
Compacto UOL
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