Um Coração Cidadão

Antonio Carlos Alleluia, carioca da comunidade do Vidigal, Zona Sul do Rio de Janeiro, 64 anos, engenheiro e  professor universitário, é um brasileiro do futuro. Daqui há X anos, os negros brasileiros terão a educação, a profissão, o coração e a família de Antonio Carlos. E compreendendo sua responsabilidade de exceção social, criou uma ONG no Vidigal que retribui àquela comunidade tudo o que recebeu da educação que teve em casa  e das melhores escolas do Rio de Janeiro. O Centro  de Formação Profissional  Ser Alzira de Alleluia.

Mesmo que fosse um ET no meio de alunos filhos de militares de altas patentes que o olhavam com desconfiança, Antonio Carlos não se abalava. Era um dos melhores alunos da escola. Filho de uma lavadeira e um carpinteiro, neto de lavadeira, com estas notas? Houve até um diretor politicamente equivocado que tentou resolver o problema com uma armadilha que o menino, como qualquer garoto de sua idade, caiu. O diretor pediu a sua expulsão. No dia seguinte duas vozes femininas se levantaram em sua defesa. A de sua mãe e a da vice-diretora que se tornou amiga da família. Ela era judia e sabia muito bem até onde o preconceito pode chegar.

Há um poeta que pode explicar este fato:  o tesouro está onde mora seu coração. E o coração de Antonio Carlos foi alimentado com os sonhos de sua avó, Alzira ex-escrava, lavadeira que tinha como lema "educar para transformar". Alzira era analfabeta mas tão sábia e à frente do seu tempo que se o educador Paulo Freire a tivesse conhecido tinha dado um título de pedagoga honoris causa.  Seu mote era: educar para transformar

Antonio Carlos foi criado na comunidade do Vidigal, num tempo em que isso era sinônimo de pobreza. Hoje ele e sua esposa, Elma, economista, mantém sem ajuda governamental a ONG Ser Alzira de Aleluia para continuar a por em prática o lema de sua avó e adotado por sua mãe. Ela e o marido separaram um cômodo do pequeno barraco para, imaginem o quê? Uma biblioteca  para o pai, carpinteiro, e os filhos estudarem.

Hoje, Antonio Carlos e Elma Alelluia, só tem uma filha solteira, Loana, que é médica e ajuda na ONG. A família  mora num amplo  apartamento em Copacabana, comprado de um jovem que  havia dilapidado a fortuna do pai e para não morrer de fome, vendeu o imóvel.  Aí, o casal criou Antonio, engenheiro de Telecomunicações, da Marinha, que trabalha na área de Energia Nuclear. A psicóloga Quênia, formada pela PUC - Rio, recém-casada com um nobre angolano. Ela fez mestrado nos Estados Unidos, onde conheceu o príncipe (de  verdade). E a médica Loana. As moças são professora na ONG.

Como a SerAlziradeAlleluia se sustenta? O casal construiu no terreno da família um pequeno prédio de 5 andares e com  a renda da locação _ hoje bem valorizado _ investe na obra. A ONG recebe doações de empresas, que, por sinal, são muito bem-vindas.

Antonio Carlos e Elma pensam no futuro. A obra está crescendo mas o casal sabe que seus filhos não querem assumir a liderança. A dupla conta em formar um jovem da comunidade para herdar o projeto. E todos os formados já compreendem o seu papel de multiplicador na comunidade do Vidigal.

Os cursos oferecidos são Balé, Inglês, Reforço Escolar, Informática e serão implantados dois profissionalizantes pensando na mulher casada com filhos que precisa trabalhar em casa. Manicure e Cabeleireiro,  que antecederão os de Bombeiro, Pedreiro, Eletricista e Vidraceiro. A obra conta ainda com um campo de futebol onde a Prefeitura desenvolve um projeto esportivo.

Serviço: Rua Major Toja Martinez Filho, 128 A, Vidigal, zona Sul do Rio. Telefone (21) 2511-7622. Site: www.seralziradealelluia.com.br

Thereza Christina Jorge




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